sexta-feira, 13 de março de 2015

APÓS A MORTE - CAPÍTULO 7

Já fazia quatro dias que Lucas não via Mirian. Ele sabia que ela havia ficado magoada com ele, mas não esperava que fosse tanto. A ausência dela era terrível para ele, pois desde que se conheceram nunca passaram mais do que um dia sem se verem.

Durante os últimos dias ele frequentou o bar de João na esperança de encontrar sua Mestra, mas ela não apareceu nenhuma vez. João e nenhum dos outros anjos que frequentavam o bar sabiam dela. Lucas havia decidido dar um tempo para ela, mas agora ele já estava ficando preocupado. Como ela não aparecia ele decidiu ir atrás dela.

Lucas iria até o “Céu” de Mirian.

Ele não sabia como chegar lá. O que Mirian havia lhe dito era que o céu era imenso, tendendo ao infinito. Isso significava que chegar até ela podia ser difícil. Mas se perder não era um problema, pois ele sempre poderia voltar para o seu céu. Além disso, Lucas se sentia ligado a Mirian, o que lhe dava uma boa chance de encontra-la mesmo sem saber como chegar até ela.

Lucas estava dentro de seu Céu. Ele fecha os olhos e começa a se concentrar. Dentro de sua mente ele tenta visualizar Mirian, quase como que se estive tentando encontra-la com um radar invisível de anjo. No começo ele não sentia nada, mas à medida que foi se concentrando começou a sentir algo. Com o tempo a sensação foi aumentando, até ficar quase visível em sua mente. Ele era capaz de ver a silhueta de Mirian. Nesse momento ele começa a se concentrar para se locomover como sempre fazia. Quando abriu os olhos não estava mais no seu céu.

O jovem ceifeiro estava agora em uma sala completamente branca. Ao olhar ao seu redor Lucas não viu nada além de uma porta rosa bem no meio da sala. Ele se aproximou da porta, pegou a maçaneta e a girou..., mas a porta não abriu..., estava trancada.

Apesar de não poder entrar Lucas sabia que aquele era o local certo para encontrar Mirian, pois ele podia senti-la quase como se estivesse na frente dele. Sem saber o que fazer ele decide adotar a única reação que conhecia para quando se está diante de uma porta trancada...

Ele bateu três vezes na porta.

Passaram-se cinco segundos e nada aconteceu. Parecia que não tinha surtido efeito. Foi quando a porta começou a fazer um som parecido com a estática dos aparelhos de som, ela começou a tremer muito e de repente uma luz branca a envolveu. Lucas observou a porta até que a luz dela se expandiu e engoliu todo o ambiente incluindo o Ceifeiro. Sua visão ficou completamente ofuscada.

Alguns instantes depois a luz começou a ficar mais fraca, começou a ceder e assim Lucas começou a conseguir enxergar. Depois de alguns segundos quando a luz havia se dissipado totalmente, o jovem ceifeiro se viu em meio a uma praia banhada por um mar lindíssimo de água completamente cristalina. O vento soprava e varias ondas preenchiam a vista até aonde ela alcançava.

Ao se virar de costas Lucas se deparou com uma bela casa de madeira. Nela havia uma porta, no meio, e duas janelas, uma de cada lado da porta. O jovem anjo observou a casa notando a beleza dela e como era bem construída. Mas quando ele menos esperava a porta se abriu, e de dentro da casa apareceu...

Mirian.

- Olá Lucas. Conseguiu me achar a final. Pode entrar. – Ela disse enquanto abria caminho para Lucas entrar.

Enquanto entrava Lucas observava Mirian. Ele não sabia se era a saudade, mas ela parecia mais linda do que nunca. Ao entrar o ceifeiro encontrou um ambiente aconchegante, com um belo sofá cor de vinho, na frente dele uma estante cor de mogno com uma bela televisão preta. Na parede a esquerda do sofá havia outra estante repleta de livros e na da direita outra estante repleta de enfeites como estatuetas, vasos e taças.

- Belo ambiente. Não sei se estou mais impressionado com o lado de fora ou com o de dentro.

- Obrigada. Fico feliz que tenha gostado. Vamos nos sentar. – Mirian estende a mão oferecendo o sofá para Lucas.

- Obrigado. – Ele se senta, seguido por ela.

- Por que você sumiu dessa forma Mirian? Eu fiquei preocupado. Não esperava que você se zangasse comigo dessa forma, a ponto de preferir ficar longe de mim.

- Não me zanguei Lucas. Só precisava de um tempo afastada de você. O que aconteceu na porta do inferno foi uma coisa séria.

- E precisava se afastar assim? Sem nem ao menos me avisar?

- Eu precisei pensar um pouco Lucas, espairecer entende?

- E por quê? Só porque discordei de você?

- Não. Porque você está andando por um caminho perigoso. Porque eu temo por você. Porque eu sou sua mestra e preciso te orientar para que você saia de onde está.

- Isso não é preciso Mirian. Eu tenho meu ponto de vista e você o seu. Não precisamos brigar ou ficar mau por isso.

- Você não entende a gravidade Lucas. Você sentir prazer com o que aconteceu e acreditar que é o dono do julgamento pode ser apenas o primeiro passo para você desandar.

- Não precisa se preocupar, não vou fazer nada de errado. Além disso, prometo tentar me controlar, pois sei que você sabe mais do que eu e só quer o meu bem.

- Está bem então. Acho melhor irmos para sua próxima missão.

- Assim é que se fala. Vamos nessa.

***

Os dois ceifeiros estavam dentro de um hospital. Lucas observou ao seu redor. O local estava repleto de médicos e enfermeiras, além é claro de pessoas acidentadas, muito sangue e machucados.

- Estamos na ala de emergências de um hospital. – Afirmou Lucas.

- Sim, estamos.

- E quem vou ceifar dessa vez?

Mirian olha para a entrada da ala de emergências. A porta se abre e por ela passam varias enfermeiras e médicos empurrando uma maca. Sobre a maca estava uma pequena garota, que não deveria ter mais do que dez anos, com o peito repleto de sangue.

- Olá Mirian. – Uma voz feminina surge ao lado de Mirian. Lucas se assusta e olha rapidamente para o lado de sua mestra. Uma senhora de cabelos brancos estava parada ali.

- Olá Maria. – Mirian responde. – Ela é a sua protegida, correto?

- Sim.

Naquele momento cai a ficha de Lucas. Aquela senhora era um Anjo da Guarda.

- Ela estava indo ao cinema. Eu tentei alertá-la para que ficasse em casa, mas sabe como são os humanos.

- Uns cabeças duras.

- Exatamente. Daí enquanto ela caminhava houve um assalto e uma troca de tiros, e então ela foi atingida.

- Sinto muito. Esse é Lucas, meu aprendiz.

- Olá Lucas!

- Olá Maria. Sinto muito por ela.

- Tudo bem. Faz parte do trabalho.

Os três observavam os médicos trabalhando no peito da menina. Pelo que Lucas podia ver o tiro havia acertado o peito da menina, talvez o coração.

Lucas se aproximou da garota como se os médicos não existissem. Naquele momento eles não existiam mesmo para o jovem ceifeiro. Só o que ele via era a garota. Ele a tocou na testa e mergulhou em sua mente.

Lucas viu uma garota doce e gentil que tratava a todos bem, que respeitava os pais e que não tinha nenhum pingo de maldade ou impureza manchando sua alma. Ele sentiu o fio da vida da pobre garota. Maria, o anjo da guarda já estava fazendo sua parte lutando para deixar o fio da vida intacto e para expulsar Lucas de dentro da criança.

O ceifeiro se sentia forte e com plena capacidade de vencer aquela disputa. Na verdade seus poderes haviam aumentando consideravelmente desde sua primeira missão, ele nem precisava mais dormir após cada trabalho cumprido. Mas apesar de todo o seu vigor, Lucas não encontrava motivos para ceifar aquela pobre garotinha. Não, a vida dela não terminaria ali. Ele era o ceifeiro, ele havia visto a vida dela e ela não merecia morrer naquele momento.

Lucas toma então a decisão. Ele não se opõe a Maria. Na verdade a Guardiã nem precisa expulsá-lo, ele se retira sozinho.

- O que você fez? – Mirian fala desesperada para ele.

- Eu decidi não ceifa-la.

- Você não podia fazer isso.

- Na verdade eu podia. Eu sou o ceifeiro, e não acho que ela mereça morrer agora. Eu decidi que ela merece viver.

Os médicos conseguem retirar a bala da garota. Os instrumentos apontam que ela está bem, apesar de tudo. Um dos médicos olha para o outro – Ela vai ficar bem – é o que ele diz.

Maria se aproxima dos dois – Acho que você não devia ter feito isso garoto.

- Pode me agradecer depois.

- Não preciso te agradecer. Eu teria salvo ela sozinha. E se não tivesse seria o caminho natural. Mas o que você fez não só é errado como perigoso.

- Pense como quiser.
Mirian olhava para Lucas completamente assustada. Ela não podia acreditar no que ele tinha feito.
Lucas via o olhar de desaprovação de Mirian.

- Não estou interessado em discutir novamente Mirian. Nos falamos depois. – E dessa vez é Lucas quem vai embora sozinho.

Maria se aproxima de Mirian e a toca no ombro.

- Esse garoto não sabe o que fez. Eu sinto muito Mirian.

- É. Eu também.

POR VINÍCIUS VIEIRA DE FARIA

EM 13/03/2015


2 comentários:

  1. Você sabe escrever com detalhes e explorar bem isso. Bastante imaginativo,né? Gostei.;)

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    1. Obrigado Claudia. É um belo elogio. Fico feliz em recebê-lo, e mais feliz ainda em saber que você gostou do que escrevi. Obrigado.
      Um grande abraço!

      ;)

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