Já fazia quatro dias
que Lucas não via Mirian. Ele sabia que ela havia ficado magoada com ele, mas
não esperava que fosse tanto. A ausência dela era terrível para ele, pois desde
que se conheceram nunca passaram mais do que um dia sem se verem.
Durante os últimos dias
ele frequentou o bar de João na esperança de encontrar sua Mestra, mas ela não
apareceu nenhuma vez. João e nenhum dos outros anjos que frequentavam o bar
sabiam dela. Lucas havia decidido dar um tempo para ela, mas agora ele já
estava ficando preocupado. Como ela não aparecia ele decidiu ir atrás dela.
Lucas iria até o “Céu”
de Mirian.
Ele não sabia como
chegar lá. O que Mirian havia lhe dito era que o céu era imenso, tendendo ao
infinito. Isso significava que chegar até ela podia ser difícil. Mas se perder
não era um problema, pois ele sempre poderia voltar para o seu céu. Além disso,
Lucas se sentia ligado a Mirian, o que lhe dava uma boa chance de encontra-la
mesmo sem saber como chegar até ela.
Lucas estava dentro de
seu Céu. Ele fecha os olhos e começa a se concentrar. Dentro de sua mente ele
tenta visualizar Mirian, quase como que se estive tentando encontra-la com um
radar invisível de anjo. No começo ele não sentia nada, mas à medida que foi se
concentrando começou a sentir algo. Com o tempo a sensação foi aumentando, até
ficar quase visível em sua mente. Ele era capaz de ver a silhueta de Mirian.
Nesse momento ele começa a se concentrar para se locomover como sempre fazia.
Quando abriu os olhos não estava mais no seu céu.
O jovem ceifeiro estava
agora em uma sala completamente branca. Ao olhar ao seu redor Lucas não viu
nada além de uma porta rosa bem no meio da sala. Ele se aproximou da porta,
pegou a maçaneta e a girou..., mas a porta não abriu..., estava trancada.
Apesar de não poder
entrar Lucas sabia que aquele era o local certo para encontrar Mirian, pois ele
podia senti-la quase como se estivesse na frente dele. Sem saber o que fazer
ele decide adotar a única reação que conhecia para quando se está diante de uma
porta trancada...
Ele bateu três vezes na
porta.
Passaram-se cinco
segundos e nada aconteceu. Parecia que não tinha surtido efeito. Foi quando a
porta começou a fazer um som parecido com a estática dos aparelhos de som, ela
começou a tremer muito e de repente uma luz branca a envolveu. Lucas observou a
porta até que a luz dela se expandiu e engoliu todo o ambiente incluindo o
Ceifeiro. Sua visão ficou completamente ofuscada.
Alguns instantes depois
a luz começou a ficar mais fraca, começou a ceder e assim Lucas começou a
conseguir enxergar. Depois de alguns segundos quando a luz havia se dissipado
totalmente, o jovem ceifeiro se viu em meio a uma praia banhada por um mar
lindíssimo de água completamente cristalina. O vento soprava e varias ondas
preenchiam a vista até aonde ela alcançava.
Ao se virar de costas
Lucas se deparou com uma bela casa de madeira. Nela havia uma porta, no meio, e
duas janelas, uma de cada lado da porta. O jovem anjo observou a casa notando a
beleza dela e como era bem construída. Mas quando ele menos esperava a porta se
abriu, e de dentro da casa apareceu...
Mirian.
- Olá Lucas. Conseguiu
me achar a final. Pode entrar. – Ela disse enquanto abria caminho para Lucas
entrar.
Enquanto entrava Lucas
observava Mirian. Ele não sabia se era a saudade, mas ela parecia mais linda do
que nunca. Ao entrar o ceifeiro encontrou um ambiente aconchegante, com um belo
sofá cor de vinho, na frente dele uma estante cor de mogno com uma bela televisão
preta. Na parede a esquerda do sofá havia outra estante repleta de livros e na
da direita outra estante repleta de enfeites como estatuetas, vasos e taças.
- Belo ambiente. Não
sei se estou mais impressionado com o lado de fora ou com o de dentro.
- Obrigada. Fico feliz
que tenha gostado. Vamos nos sentar. – Mirian estende a mão oferecendo o sofá
para Lucas.
- Obrigado. – Ele se
senta, seguido por ela.
- Por que você sumiu
dessa forma Mirian? Eu fiquei preocupado. Não esperava que você se zangasse
comigo dessa forma, a ponto de preferir ficar longe de mim.
- Não me zanguei Lucas.
Só precisava de um tempo afastada de você. O que aconteceu na porta do inferno
foi uma coisa séria.
- E precisava se
afastar assim? Sem nem ao menos me avisar?
- Eu precisei pensar um
pouco Lucas, espairecer entende?
- E por quê? Só porque
discordei de você?
- Não. Porque você está
andando por um caminho perigoso. Porque eu temo por você. Porque eu sou sua
mestra e preciso te orientar para que você saia de onde está.
- Isso não é preciso
Mirian. Eu tenho meu ponto de vista e você o seu. Não precisamos brigar ou
ficar mau por isso.
- Você não entende a
gravidade Lucas. Você sentir prazer com o que aconteceu e acreditar que é o
dono do julgamento pode ser apenas o primeiro passo para você desandar.
- Não precisa se
preocupar, não vou fazer nada de errado. Além disso, prometo tentar me
controlar, pois sei que você sabe mais do que eu e só quer o meu bem.
- Está bem então. Acho
melhor irmos para sua próxima missão.
- Assim é que se fala.
Vamos nessa.
***
Os dois ceifeiros
estavam dentro de um hospital. Lucas observou ao seu redor. O local estava
repleto de médicos e enfermeiras, além é claro de pessoas acidentadas, muito
sangue e machucados.
- Estamos na ala de
emergências de um hospital. – Afirmou Lucas.
- Sim, estamos.
- E quem vou ceifar
dessa vez?
Mirian olha para a
entrada da ala de emergências. A porta se abre e por ela passam varias
enfermeiras e médicos empurrando uma maca. Sobre a maca estava uma pequena
garota, que não deveria ter mais do que dez anos, com o peito repleto de
sangue.
- Olá Mirian. – Uma voz
feminina surge ao lado de Mirian. Lucas se assusta e olha rapidamente para o
lado de sua mestra. Uma senhora de cabelos brancos estava parada ali.
- Olá Maria. – Mirian
responde. – Ela é a sua protegida, correto?
- Sim.
Naquele momento cai a
ficha de Lucas. Aquela senhora era um Anjo da Guarda.
- Ela estava indo ao
cinema. Eu tentei alertá-la para que ficasse em casa, mas sabe como são os
humanos.
- Uns cabeças duras.
- Exatamente. Daí
enquanto ela caminhava houve um assalto e uma troca de tiros, e então ela foi
atingida.
- Sinto muito. Esse é
Lucas, meu aprendiz.
- Olá Lucas!
- Olá Maria. Sinto
muito por ela.
- Tudo bem. Faz parte
do trabalho.
Os três observavam os
médicos trabalhando no peito da menina. Pelo que Lucas podia ver o tiro havia
acertado o peito da menina, talvez o coração.
Lucas se aproximou da
garota como se os médicos não existissem. Naquele momento eles não existiam
mesmo para o jovem ceifeiro. Só o que ele via era a garota. Ele a tocou na
testa e mergulhou em sua mente.
Lucas viu uma garota
doce e gentil que tratava a todos bem, que respeitava os pais e que não tinha
nenhum pingo de maldade ou impureza manchando sua alma. Ele sentiu o fio da
vida da pobre garota. Maria, o anjo da guarda já estava fazendo sua parte
lutando para deixar o fio da vida intacto e para expulsar Lucas de dentro da
criança.
O ceifeiro se sentia
forte e com plena capacidade de vencer aquela disputa. Na verdade seus poderes
haviam aumentando consideravelmente desde sua primeira missão, ele nem
precisava mais dormir após cada trabalho cumprido. Mas apesar de todo o seu
vigor, Lucas não encontrava motivos para ceifar aquela pobre garotinha. Não, a
vida dela não terminaria ali. Ele era o ceifeiro, ele havia visto a vida dela e
ela não merecia morrer naquele momento.
Lucas toma então a
decisão. Ele não se opõe a Maria. Na verdade a Guardiã nem precisa expulsá-lo,
ele se retira sozinho.
- O que você fez? –
Mirian fala desesperada para ele.
- Eu decidi não
ceifa-la.
- Você não podia fazer
isso.
- Na verdade eu podia.
Eu sou o ceifeiro, e não acho que ela mereça morrer agora. Eu decidi que ela
merece viver.
Os médicos conseguem
retirar a bala da garota. Os instrumentos apontam que ela está bem, apesar de
tudo. Um dos médicos olha para o outro – Ela vai ficar bem – é o que ele diz.
Maria se aproxima dos
dois – Acho que você não devia ter feito isso garoto.
- Pode me agradecer
depois.
- Não preciso te
agradecer. Eu teria salvo ela sozinha. E se não tivesse seria o caminho
natural. Mas o que você fez não só é errado como perigoso.
- Pense como quiser.
Mirian olhava para
Lucas completamente assustada. Ela não podia acreditar no que ele tinha feito.
Lucas via o olhar de
desaprovação de Mirian.
- Não estou interessado
em discutir novamente Mirian. Nos falamos depois. – E dessa vez é Lucas quem
vai embora sozinho.
Maria se aproxima de
Mirian e a toca no ombro.
- Esse garoto não sabe
o que fez. Eu sinto muito Mirian.
- É. Eu também.
Você sabe escrever com detalhes e explorar bem isso. Bastante imaginativo,né? Gostei.;)
ResponderExcluirObrigado Claudia. É um belo elogio. Fico feliz em recebê-lo, e mais feliz ainda em saber que você gostou do que escrevi. Obrigado.
ExcluirUm grande abraço!
;)