Primmm!!!
O
alarme do relógio desperta. Gabriel abre seus olhos, estende sua mão direita
até o aparelho e o desliga. Ele respira profundamente. Ligia está deitada sobre
seu ombro esquerdo. Gabriel a observa por certo tempo, até que ela sorri.
-
Bom dia para você! – Ligia diz sorrindo para o marido.
-
Bom dia meu amor! – Gabriel responde.
-
Adorei a noite. – Ela se estica para beijar a boca de Gabriel.
-
Eu também. Foi tudo maravilhoso.
-
Que bom que gostou. Vou preparar um belo café da manhã para que você recupere
as forças.
-
Obrigado.
Ligia
se levanta. Gabriel observa o corpo nu de sua mulher, admirando cada centímetro
das curvas dela. Ela pega a camisola que estava no chão e a veste. Os dois se
olham de forma profunda, terna. Eles se desejavam mais do que tudo naquele
momento, e o amor um do outro se estendia pelo quarto unindo-os. Os lábios de
Lígia tremem prestes a dizerem “eu te amo”, mas antes disso o telefone de
Gabriel toca, trazendo-os de volta de seu transe.
Ele atende.
-
Diga Laura. – Diz o Delegado.
Do
outro lado da linha a perita começa a falar. Gabriel escuta com muita atenção.
Ligia o observa atenta, e nota uma alteração na expressão de seu marido.
-
Tem certeza? – Ele pergunta.
Gabriel
escuta a resposta.
-
Entendo. Estou indo. – Ele diz e desliga o celular.
-
O que foi? – Pergunta Ligia, com uma expressão de desapontamento.
-
Parece que só terei tempo para um café.
-
Por quê? É só essa mulher ligar uma vez e você já sai correndo?
-
Não é nada disso.
-
E o que é então?
-
Lembra-se do detetive Paulo que trabalha comigo?
-
Sim. Me lembro. O que tem ele?
-
Está morto!
***
Gabriel
caminha pelo corredor com pressa. Ele estava em um pequeno hotel do subúrbio.
As pessoas estavam próximas às paredes, deixando o caminho livre para que o
delegado caminhasse. Ele entra pela porta do quarto e encontra a cena do crime.
Da
porta Gabriel vê Paulo caído sobre a cama. A garganta do detetive havia sido
cortada. Os olhos foram feridos. Seu pênis tinha sido removido, assim como o das
outras vítimas. No abdômen dele estavam presentes várias perfurações. A cama
estava banhada em sangue.
Laura
estava parada ao lado da cama. O delegado a olha com ódio estampado no olhar. A
legista sente um frio passar por sua espinha. Gabriel se aproxima dela.
-
O que descobriu? – Gabriel pergunta com a voz grave.
-
Ainda não sei. – Ela responde. – Estou apenas coletando amostras para analisar
tudo no laboratório.
-
Não cometa nenhum erro. E trabalhe o mais rápido possível. – Gabriel diz com a
voz impregnada de raiva. – Seja quem for que cometeu esse crime, cometeu um
grave erro.
-
Fique calmo Gabriel. – Ela diz.
O
delegado a olha com raiva. – Não ficarei calmo até acabar com quem fez isso. –
Ele diz de forma ríspida.
O
detetive Fernando se aproxima.
-
Delegado. – Ele chama pelo chefe.
Gabriel
vira-se para o detetive.
-
Qual foi à última vez que você viu o Paulo? – Ele pergunta ao detetive.
-
Ontem à noite. – Fernando responde. – Depois que o senhor e a doutora foram para
casa, nós ficamos por mais um tempo finalizando a papelada e então fomos
embora. O Paulo perguntou se eu queria ir ao Fandangos com ele para bebermos.
Mas eu recusei e fui para casa.
-
E você acha que ele foi sozinho para o bar?
-
Acredito que sim.
Gabriel
passa por Fernando e se dirige para a porta.
-
Para onde o senhor vai? – Pergunta Fernando.
-
Para o Fandangos!
***
O
barman estava com a cabeça abaixada, olhando para uma revista de carros quando
tem sua atenção chamada por alguém a sua frente. Ao levantar a cabeça seu olhar
se depara com uma identificação policial. Ele a lê.
-
Delegado Gabriel? – Ele diz um pouco hesitante. – Em que posso ajuda-lo
delegado?
Gabriel
guarda sua identificação e mostra uma foto de Paulo para o barman.
-
Esse homem esteve aqui ontem?
-
Sim. Chegou no início do meu turno, por volta das nove da noite.
-
Ele estava acompanhado? Ou conheceu alguém enquanto estava aqui?
-
Creio que não.
-
Tem certeza? – Gabriel pergunta com a voz firme, mostrando a seriedade da
situação.
-
Tenho. Eu o atendi. Ele ficou até por volta das dez horas e então foi embora.
-
Ele não conversou com ninguém enquanto estava aqui?
-
Não. Ele olhou para algumas mulheres, mas no fim saiu sem falar com ninguém.
-
Certo. Obrigado.
***
Gabriel
adentra o laboratório de análises de forma brusca. Ele se dirige até Laura.
-
Espero que tenha boas notícias para mim. – Gabriel fala para a legista.
-
Mais ou menos. O legista encontrou fios de cabelo ruivo na mão esquerda de
Paulo.
Gabriel
levanta uma das sobrancelhas em sinal de indagação.
-
E?
-
Eu analisei o material a procura de DNA, mas não encontrei nenhum.
-
Como assim?
-
Acontece que não eram fios de cabelo humano.
-
E o que eram então?
-
Fios de uma peruca.
-
Interessante.
-
E como isso pode ser interessante?
-
Porque agora eu tenho certeza de uma coisa.
-
Que coisa seria essa?
-
Nós estamos atrás de apenas uma pessoa.
***
-
Tem certeza disso chefe? – Pergunta Fernando.
-
Tenho. Responde Gabriel.
Eles
estavam na sala do delegado, acompanhados pela legista, debatendo sobre o caso.
-
E como você chegou a essa conclusão? – Pergunta Laura.
-
É bem simples. Lembra-se deu lhe dizer que é muito difícil surgirem dois
assassinos com método operante tão semelhante?
-
Sim. Eu me lembro.
-
Pois então, se dois seria difícil, três seria quase impossível.
A
legista e o detetive observam o delegado com muita atenção.
-
Prossiga. – Diz Fernando.
-
Nós temos três homicídios, todos muito semelhantes. A única coisa de diferente
é a suspeita do segundo crime.
-
Exatamente. – Diz Laura. – Ela era loira.
-
Sim. E as outras duas mortes foram causadas por uma ruiva. – Diz Fernando.
-
Aí é que está! – Exclama Gabriel de forma convicta. – Quem matou Paulo não era
uma ruiva. A pessoa usava peruca como vocês bem sabem.
-
E o que isso prova? – Pergunta Laura.
-
É um indicio. Sozinho não diz muito, mas serviu para eu me atentar de uma
coisa.
-
E que coisa é essa? – Fernando indaga Gabriel.
-
De que a criminosa gosta de disfarces. Primeiro ela apareceu como uma ruiva.
Depois como uma loira de cabelos curtos. Isso foi para nos deixar perdidos, o
que deu certo. Agora ela reaparece como ruiva.
-
Mas porque reaparecer como ruiva? Não seria melhor usar um novo disfarce? –
Pergunta Laura.
-
Não. Um novo disfarce seria péssimo. Seria tentar nos fazer crer que existe um
terceiro assassino. Seja quem for essa mulher, ela sabe que três assassinas
seria demais para acreditarmos, e talvez começássemos a desconfiar.
Laura
e Fernando acenam com a cabeça, indicando que entenderam o raciocínio do
delegado.
-
Além disso, reaparecendo como ruiva, ela nos indicaria que realmente existiam
duas assassinas, uma loira e outra ruiva. Isso nos deixaria perdidos e
procurando pela pessoa errada, já que ela provavelmente não é nem um nem outro.
-
Como assim? – Pergunta Laura.
-
A assassina provavelmente é morena.
-
Por que tem tanta certeza disso?
-
Simples. Ela se disfarçou de loira e de ruiva, duas coisas que ela não é. O
objetivo era nos fazer procurar alguém que fosse completamente diferente dela,
para que ela passasse despercebida e nunca fosse encontrada.
Laura
e Fernando se entreolham, espantados com o raciocínio do delegado.
Mas
ela acabou cometendo um grave erro dessa vez.
-
E qual foi? – Pergunta Fernando.
-
Deixar os fios da peruca na cena do crime. Isso foi como deixar a primeira
migalha da trilha de farelos que me levarão até ela.
***
-
O que o legista falou? – Gabriel pergunta a Laura antes de beber um gole de seu
vinho.
-
Haviam marcas nos pulsos e tornozelos de Paulo. Ele havia sido amarrado à cama.
-
Provavelmente achou que ia se divertir. – Diz Fernando.
-
Provavelmente. – Confirma Gabriel.
-
O doutor disse que provavelmente Paulo foi golpeado na barriga, três vezes. Ele
se debateu e lutou, causando assim as marcas nos pulsos e tornozelos. Ele ainda
estava vivo quando teve seu pênis removido. Ela o deixou sangrando e agonizando
até que decidiu degolá-lo.
-
Coitado do meu amigo. – Diz Fernando. – Espero que essa mulher pague pelo que
fez.
Gabriel
estava concentrado, olhando para uma mulher morena sentada a algumas mesas de
distância. Ela também o olhava, e sorriu para ele. Laura percebe a falta de
atenção de Gabriel na conversa.
-
O que foi? – A legista pergunta.
-
Ainda não sei. – Diz Gabriel, que se levanta.
A
mulher se levanta e vai rapidamente até a porta dos fundos do restaurante. Gabriel
a segue. Ele passa pela porta e sai em um longo corredor. Ao longe Gabriel vê a
mulher correndo. O delegado a manda parar. Ela olha para trás e então segue com
sua fuga, virando à esquerda no fim do corredor. Gabriel saca sua arma e corre
para alcança-la.
O
delegado chega ao fim do corredor. Uma lâmina surge e atinge sua mão. Ele
grita. Sua arma cai ao chão. A lâmina o atinge no abdômen. Gabriel emite um
gemido seco. Ele olha a mulher nos olhos.
-
Traidor. – Ela diz para ele.
A
lâmina sai do corpo de Gabriel, e ele cai ao chão.
POR VINÍCIUS VIEIRA DE FARIA.
EM 15/SETEMBRO/2015.