terça-feira, 15 de setembro de 2015

A AMANTE DE SANGUE - CAPÍTULO 4

Primmm!!!

O alarme do relógio desperta. Gabriel abre seus olhos, estende sua mão direita até o aparelho e o desliga. Ele respira profundamente. Ligia está deitada sobre seu ombro esquerdo. Gabriel a observa por certo tempo, até que ela sorri.

- Bom dia para você! – Ligia diz sorrindo para o marido.

- Bom dia meu amor! – Gabriel responde.

- Adorei a noite. – Ela se estica para beijar a boca de Gabriel.

- Eu também. Foi tudo maravilhoso.

- Que bom que gostou. Vou preparar um belo café da manhã para que você recupere as forças.

- Obrigado.

Ligia se levanta. Gabriel observa o corpo nu de sua mulher, admirando cada centímetro das curvas dela. Ela pega a camisola que estava no chão e a veste. Os dois se olham de forma profunda, terna. Eles se desejavam mais do que tudo naquele momento, e o amor um do outro se estendia pelo quarto unindo-os. Os lábios de Lígia tremem prestes a dizerem “eu te amo”, mas antes disso o telefone de Gabriel toca, trazendo-os de volta de seu transe. 

Ele atende.

- Diga Laura. – Diz o Delegado.

Do outro lado da linha a perita começa a falar. Gabriel escuta com muita atenção. Ligia o observa atenta, e nota uma alteração na expressão de seu marido.

- Tem certeza? – Ele pergunta.

Gabriel escuta a resposta.

- Entendo. Estou indo. – Ele diz e desliga o celular.

- O que foi? – Pergunta Ligia, com uma expressão de desapontamento.

- Parece que só terei tempo para um café.

- Por quê? É só essa mulher ligar uma vez e você já sai correndo?

- Não é nada disso.

- E o que é então?

- Lembra-se do detetive Paulo que trabalha comigo?

- Sim. Me lembro. O que tem ele?

- Está morto!

***

Gabriel caminha pelo corredor com pressa. Ele estava em um pequeno hotel do subúrbio. As pessoas estavam próximas às paredes, deixando o caminho livre para que o delegado caminhasse. Ele entra pela porta do quarto e encontra a cena do crime.

Da porta Gabriel vê Paulo caído sobre a cama. A garganta do detetive havia sido cortada. Os olhos foram feridos. Seu pênis tinha sido removido, assim como o das outras vítimas. No abdômen dele estavam presentes várias perfurações. A cama estava banhada em sangue.

Laura estava parada ao lado da cama. O delegado a olha com ódio estampado no olhar. A legista sente um frio passar por sua espinha. Gabriel se aproxima dela.

- O que descobriu? – Gabriel pergunta com a voz grave.

- Ainda não sei. – Ela responde. – Estou apenas coletando amostras para analisar tudo no laboratório.

- Não cometa nenhum erro. E trabalhe o mais rápido possível. – Gabriel diz com a voz impregnada de raiva. – Seja quem for que cometeu esse crime, cometeu um grave erro.

- Fique calmo Gabriel. – Ela diz.

O delegado a olha com raiva. – Não ficarei calmo até acabar com quem fez isso. – Ele diz de forma ríspida.

O detetive Fernando se aproxima.

- Delegado. – Ele chama pelo chefe.

Gabriel vira-se para o detetive.

- Qual foi à última vez que você viu o Paulo? – Ele pergunta ao detetive.

- Ontem à noite. – Fernando responde. – Depois que o senhor e a doutora foram para casa, nós ficamos por mais um tempo finalizando a papelada e então fomos embora. O Paulo perguntou se eu queria ir ao Fandangos com ele para bebermos. Mas eu recusei e fui para casa.

- E você acha que ele foi sozinho para o bar?

- Acredito que sim.

Gabriel passa por Fernando e se dirige para a porta.

- Para onde o senhor vai? – Pergunta Fernando.

- Para o Fandangos!

***

O barman estava com a cabeça abaixada, olhando para uma revista de carros quando tem sua atenção chamada por alguém a sua frente. Ao levantar a cabeça seu olhar se depara com uma identificação policial. Ele a lê.

- Delegado Gabriel? – Ele diz um pouco hesitante. – Em que posso ajuda-lo delegado?
Gabriel guarda sua identificação e mostra uma foto de Paulo para o barman.

- Esse homem esteve aqui ontem?

- Sim. Chegou no início do meu turno, por volta das nove da noite.

- Ele estava acompanhado? Ou conheceu alguém enquanto estava aqui?

- Creio que não.

- Tem certeza? – Gabriel pergunta com a voz firme, mostrando a seriedade da situação.

- Tenho. Eu o atendi. Ele ficou até por volta das dez horas e então foi embora.

- Ele não conversou com ninguém enquanto estava aqui?

- Não. Ele olhou para algumas mulheres, mas no fim saiu sem falar com ninguém.

- Certo. Obrigado.

***

Gabriel adentra o laboratório de análises de forma brusca. Ele se dirige até Laura.

- Espero que tenha boas notícias para mim. – Gabriel fala para a legista.

- Mais ou menos. O legista encontrou fios de cabelo ruivo na mão esquerda de Paulo.

Gabriel levanta uma das sobrancelhas em sinal de indagação.

- E?

- Eu analisei o material a procura de DNA, mas não encontrei nenhum.

- Como assim?

- Acontece que não eram fios de cabelo humano.

- E o que eram então?

- Fios de uma peruca.

- Interessante.

- E como isso pode ser interessante?

- Porque agora eu tenho certeza de uma coisa.

- Que coisa seria essa?

- Nós estamos atrás de apenas uma pessoa.

***

- Tem certeza disso chefe? – Pergunta Fernando.

- Tenho. Responde Gabriel.

Eles estavam na sala do delegado, acompanhados pela legista, debatendo sobre o caso.

- E como você chegou a essa conclusão? – Pergunta Laura.

- É bem simples. Lembra-se deu lhe dizer que é muito difícil surgirem dois assassinos com método operante tão semelhante?

- Sim. Eu me lembro.

- Pois então, se dois seria difícil, três seria quase impossível.

A legista e o detetive observam o delegado com muita atenção.

- Prossiga. – Diz Fernando.

- Nós temos três homicídios, todos muito semelhantes. A única coisa de diferente é a suspeita do segundo crime.

- Exatamente. – Diz Laura. – Ela era loira.

- Sim. E as outras duas mortes foram causadas por uma ruiva. – Diz Fernando.

- Aí é que está! – Exclama Gabriel de forma convicta. – Quem matou Paulo não era uma ruiva. A pessoa usava peruca como vocês bem sabem.

- E o que isso prova? – Pergunta Laura.

- É um indicio. Sozinho não diz muito, mas serviu para eu me atentar de uma coisa.

- E que coisa é essa? – Fernando indaga Gabriel.

- De que a criminosa gosta de disfarces. Primeiro ela apareceu como uma ruiva. Depois como uma loira de cabelos curtos. Isso foi para nos deixar perdidos, o que deu certo. Agora ela reaparece como ruiva.

- Mas porque reaparecer como ruiva? Não seria melhor usar um novo disfarce? – Pergunta Laura.

- Não. Um novo disfarce seria péssimo. Seria tentar nos fazer crer que existe um terceiro assassino. Seja quem for essa mulher, ela sabe que três assassinas seria demais para acreditarmos, e talvez começássemos a desconfiar.

Laura e Fernando acenam com a cabeça, indicando que entenderam o raciocínio do delegado.

- Além disso, reaparecendo como ruiva, ela nos indicaria que realmente existiam duas assassinas, uma loira e outra ruiva. Isso nos deixaria perdidos e procurando pela pessoa errada, já que ela provavelmente não é nem um nem outro.

- Como assim? – Pergunta Laura.

- A assassina provavelmente é morena.

- Por que tem tanta certeza disso?

- Simples. Ela se disfarçou de loira e de ruiva, duas coisas que ela não é. O objetivo era nos fazer procurar alguém que fosse completamente diferente dela, para que ela passasse despercebida e nunca fosse encontrada.

Laura e Fernando se entreolham, espantados com o raciocínio do delegado.
Mas ela acabou cometendo um grave erro dessa vez.

- E qual foi? – Pergunta Fernando.

- Deixar os fios da peruca na cena do crime. Isso foi como deixar a primeira migalha da trilha de farelos que me levarão até ela.

***

- O que o legista falou? – Gabriel pergunta a Laura antes de beber um gole de seu vinho.

- Haviam marcas nos pulsos e tornozelos de Paulo. Ele havia sido amarrado à cama.

- Provavelmente achou que ia se divertir. – Diz Fernando.

- Provavelmente. – Confirma Gabriel.

- O doutor disse que provavelmente Paulo foi golpeado na barriga, três vezes. Ele se debateu e lutou, causando assim as marcas nos pulsos e tornozelos. Ele ainda estava vivo quando teve seu pênis removido. Ela o deixou sangrando e agonizando até que decidiu degolá-lo.

- Coitado do meu amigo. – Diz Fernando. – Espero que essa mulher pague pelo que fez.

Gabriel estava concentrado, olhando para uma mulher morena sentada a algumas mesas de distância. Ela também o olhava, e sorriu para ele. Laura percebe a falta de atenção de Gabriel na conversa.

- O que foi? – A legista pergunta.

- Ainda não sei. – Diz Gabriel, que se levanta.

A mulher se levanta e vai rapidamente até a porta dos fundos do restaurante. Gabriel a segue. Ele passa pela porta e sai em um longo corredor. Ao longe Gabriel vê a mulher correndo. O delegado a manda parar. Ela olha para trás e então segue com sua fuga, virando à esquerda no fim do corredor. Gabriel saca sua arma e corre para alcança-la.

O delegado chega ao fim do corredor. Uma lâmina surge e atinge sua mão. Ele grita. Sua arma cai ao chão. A lâmina o atinge no abdômen. Gabriel emite um gemido seco. Ele olha a mulher nos olhos.

- Traidor. – Ela diz para ele.


A lâmina sai do corpo de Gabriel, e ele cai ao chão.

POR VINÍCIUS VIEIRA DE FARIA.
EM 15/SETEMBRO/2015.