O
delicado vestido azul de seda escorre pelo corpo da bela mulher. Deitado sobre
a cama, o homem observa maravilhado as belas curvas cobertas pela lingerie
azul. Seu pênis começa a enrijecer, ficando ereto.
Ele
não sabia como aquilo havia acontecido. Nunca tinha sido sortudo com as
mulheres bonitas. Sempre fora bom em conquistar as mais tímidas e menos belas,
se valendo da insegurança e solidão delas, para assim conquista-las e usá-las em
sua diversão. Sua esposa era a mais bela que havia conquistado na vida, e mesmo
assim ela não era o que se podia chamar de “um espetáculo de mulher”. Pelo
menos não como aquela ruiva que dançava na frente dele naquele momento.
Ele
apenas tomava uma bebida no restaurante, afogando a tristeza do dia. Planejava
conquistar alguma moça insegura e sem autoestima para acabar com o estresse.
Foi quando ela surgiu... Entrando pela porta, toda voluptuosa, com seu belo
vestido de ceda azul celeste. Ela se sentou ao seu lado... O convidou para uma
bebida... Os dois conversaram um pouco... E agora estavam ali naquele quarto de
hotel.
A
bela ruiva dançava lentamente. Quanto mais ela se insinuava, mais o homem ficava
louco. Aos poucos ela se aproximou da cama, apoiou um dos joelhos sobre ela,
depois o outro, e então engatinhou sobre seu parceiro.
Ele
a toca na face, a olha nos olhos e deslumbra-se com a bela tonalidade
verde-água. Sua mão escorrega suavemente para a nuca dela, ele a puxa para si e
a beija. Ela fica deitada sobre ele, e enquanto suas línguas se entrelaçam, a
mão dela desliza para debaixo de um dos travesseiros... E surge novamente...
Com uma pequena faca em punho...
***
Um
par de sapatos negros cruzava o corredor com passadas lerdas. Logo a frente uma
porta estava aberta, e de dentro do quarto vozes eram ouvidas. Ao parar na porta
o homem se depara com dois policiais que conversavam. Próximo a eles um homem
bem vestido parecia abatido. Na frente dos policiais havia uma cama e sobre ela
jazia um corpo.
Uma
mulher loura examinava o corpo. Seus cabelos estavam presos, e ela usava um
colete a prova de balas. No colete estava escrito “Perícia”.
-
O que você acha que aconteceu com esse idiota? – Pergunta o policial a direita.
-
Tanto faz. Eu só quero ir para casa logo. – Responde o outro policial.
-
É mesmo? – O homem na porta pergunta.
Os
policiais viram-se assustados e deparam-se com um homem de expressão cansada,
olhos verdes, cabelos castanhos, trajando um terno preto surrado, uma camisa
branca amarrotada e sapatos negros.
-
De... de... delegado Gabriel... – Diz o policial a direita. – Não sabia que o
senhor viria para cá.
O
Delegado se aproxima.
-
Minha presença lhe incomoda oficial Paulo? Estava com pressa de ir a algum
lugar?
-
Não senhor. – Responde o policial a direita. – É só que meu turno já acabou.
-
Entendo. Bem, imagino que devamos ser gratos por você poder ir para casa
encontrar sua esposa, já que o nosso companheiro ali não teve essa mesma sorte,
não é mesmo oficial?
-
E... e... eu sinto muito senhor.
-
Imagino que sim. – O delegado olha para o outro policial. – Posso saber por que
não tem um policial na porta, cuidando da entrada da cena?
-
Nós não achamos que fosse necessário senhor. – O homem responde.
-
Acharam não é. Eu preciso mesmo citar como é importante cuidar da segurança da cena
do crime inspetor Fernando? Principalmente quando há agentes trabalhando nela?
-
Não senhor.
-
Eu deveria suspendê-los imediatamente devido a preguiça de vocês.
-
Senhor, nós nã... – O policial é interrompido bruscamente pelo delegado.
-
Silêncio. Não vou tomar essa atitude porque não há outros policiais aqui, e
porque vocês não deixaram a perita sozinha. Mas eu espero que esse erro não
torne a acontecer.
-
Obrigado senhor! Não tornará a acontecer.
-
Assim espero. Agora, você vai ficar na porta do lado de fora fazendo a
segurança. E não deixe ninguém entrar se não for um policial. Entendido?
-
Sim senhor!
-
Ótimo! – O delegado diz, e então se vira para o outro policial. - Inspetor
Paulo, quem é aquele homem? – O delegado pergunta, indicando com a cabeça o
homem bem vestido.
-
É o gerente do hotel senhor.
-
E por que ele está aqui?
-
Para responder nossas perguntas senhor.
-
Aqui? Na cena do crime? Diante de um corpo? Ficaram malucos? – O delegado
grita, assustando o gerente. – Vocês são muito incompetentes mesmo. Leve-o para
o saguão do hotel, dê-lhe um copo d’água e deixe-o sentado para que se acalme.
-
Sim senhor.
Os
dois oficiais acompanham o gerente até a saída. Um fica na porta, enquanto o
outro segue pelo corredor com o gerente.
O
delegado aproxima-se da cama para conseguir uma visão melhor do cadáver.
O
corpo estava deitado sobre a cama com o ventre voltado para cima. Os braços e
pernas estavam afastados do corpo. Havia muito sangue sobre o corpo e também
nos lençóis. Na garganta havia um grande corte, e o pênis havia sido removido e
arremessado para longe da cama.
Gabriel
observa aquela cena de forma firme, sem se abalar. Como se aquilo fosse à coisa
mais natural do mundo para ele.
A
mulher levanta-se da cama e vira-se, revelando pela primeira vez seu belo rosto
branco e seus olhos azuis. Sobre a mesa de cabeceira havia uma mochila com
objetos. A perita coloca um frasco dentro da mochila e pega uma prancheta, na
qual começa a escrever. Enquanto escreve ela fala com o delegado.
-
Você parece de mal humor... Como sempre.
-
Não estou de mal humor. Só não suporto incompetência. E você sabe disso Laura.
A
perita sorri.
-
Entendo. E como vai a esposa?
-
Como sempre.
-
Tão mal assim?
-
Não se preocupe. Está tudo bem.
-
Está? Tem certeza?
-
Tenho.
-
Está bem.
-
O que temos aqui?
-
Homicídio. A vítima teve a garganta cortada. – A perita coloca a prancheta
sobre a mesa, pega um saco plástico lacrado que estava com uma faca cheia de
sangue, e o leva para o delegado. – Essa faca estava dentro da pia do banheiro.
Terei que fazer mais exames, e o legista terá que confirmar, mas com certeza
foi essa a arma do crime. O pênis foi removido, provavelmente com essa mesma
faca.
-
Compreendo. E quem é ele? Você encontrou alguma identificação?
A
perita vai até sua mochila novamente e pega a prancheta e uma carteira. Ela
volta para perto do delegado.
-
Marcos Aurélio. 32 anos.
-
Certo. Vou deixar você terminar aqui, e depois continuamos na delegacia.
-
Tudo bem senhor.
-
Ótimo. Agora vou até a recepção do hotel para interrogar o gerente.
***
O
gerente estava em sua sala, sentando atrás de sua mesa, bebendo água com
açúcar. O investigador lhe fazia companhia até que o delegado chegou e pediu
que ele esperasse do lado de fora do aposento. Depois que o homem saiu o
delegado sentou-se na cadeira que estava em frente à mesa do gerente.
-
Eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas senhor. Tudo bem?
-
Tudo. Pode perguntar o que precisar.
-
Obrigado. O senhor viu quando aquele homem chegou?
-
Sim. Eu estava na recepção. Eram por volta de vinte horas.
-
E viu a pessoa com quem ele chegou?
O
homem acena positivamente com a cabeça.
-
Era uma bela mulher. Ruiva, de cabelos lisos e longos. De olhos claros. Estava
de salto alto, mas acho que tinha cerca de um metro e sessenta. Pele clara. Um
lindo corpo cheio de belas curvas. Usava um vestido azul celeste de seda e
também luvas azuis de seda.
-
E o senhor viu quando ela desceu?
-
Vi sim. Ela desceu uns trinta minutos depois.
-
Ela estava com alguma bolsa?
-
Uma pequena bolsa azul, combinando com o vestido.
-
Qual a idade dela?
-
Menos de trinta.
-
Certo. Algum outro detalhe?
O
homem fica pensativo, tentando se lembrar de algo.
-
Os dois entraram de braços dados. Eu estranhei.
-
Por quê?
-
Não é comum ver uma mulher jovem e bela como aquela ao lado de um homem de má
aparência como aquele. Eu imaginei que fosse uma prostituta ou amante dele, mas
não fiz perguntas.
-
Entendo. Algo mais?
-
Nada que eu consiga me lembrar. Acho que é só.
-
O senhor já tinha visto essa mulher aqui no hotel? Ou em algum outro lugar?
-
Sinceramente, não me lembro de tê-la visto antes.
-
Certo. Existem câmeras nesse hotel?
-
Sim. Na recepção, e também nos corredores.
-
Ótimo. Vou precisar do tape dessa noite. O investigador Paulo ficará
responsável por pegá-lo. Tudo bem?
-
Sim. Tudo.
-
Mais uma coisa. Existe algum bar ou restaurante aqui perto?
-
O mais próximo é o bar da Realeza. Nessa mesma rua, cerca de um quilômetro
daqui, seguindo no sentido da Avenida Barão Branco.
-
Ótimo. Muito obrigado senhor.
***
Gabriel
entra no bar. Parado na porta ele observa o ambiente não muito sofisticado. O
local não estava muito cheio. Havia apenas algumas pessoas sentadas nas mesas.
O delegado atravessa o estabelecimento até o balcão, onde se senta. O Barman se
aproxima.
-
O que deseja?
-
Uma taça de vinho. – O delegado responde.
O
homem se afasta até a mesa de bebidas. Ele retorna com uma taça de vinho e a
coloca na frente do delegado.
-
Aí está!
-
Obrigado.
-
Mais alguma coisa?
-
Sim.
O
delegado pega uma foto do homem morto que estava no hotel e a mostra ao barman.
-
Esse homem esteve aqui essa noite?
O
barman observa a foto com cuidado.
-
Esteve sim.
-
Se lembra da hora?
-
A hora exata não. Mas diria que foi antes das oito da noite. Talvez as sete.
-
E ele estava sozinho?
-
Quando chegou estava. Mas então uma ruiva chegou e puxou conversa com ele. Ele
gostou dela, o que não foi nenhuma surpresa, pois ela era muito bonita. Os dois
beberam um pouco e então saíram.
-
Entendo. Essa ruiva estava usando um vestido azul?
-
Sim.
-
Mais uma coisa. Aqui tem sistema de câmeras?
-
Temos, mas não vai ajudar em nada.
-
E por que não?
-
Porque está danificado.
-
E nenhuma das câmeras funciona?
-
Não. Estão todas desligadas. Estão aí para amedrontar os ladrões.
-
Está bem. Obrigado pela atenção.
-
Por nada.
O barman se afasta, e
o delegado bebe todo o vinho de sua taça.