segunda-feira, 13 de julho de 2015

A AMANTE DE SANGUE - CAPÍTULO 2

Gabriel destranca a porta de sua casa e entra. Na sala depara-se com sua mulher, uma bela dama de cabelos negros, utilizando uma camisola branca e que dormia no sofá. Ela acorda com a movimentação, olha para ele e se levanta.

- Onde você estava?

- Trabalhando.

- Até a essa hora?

- Sim.

A mulher se aproxima do homem e sente seu cheiro.

- E o que foi que aconteceu nesse bar de tão importante que te prendeu lá até a essa hora?

- No bar nada. Foi em um hotel que aconteceu.

- Hum. Então foi no hotel que você encheu a cara?

- Por favor, Lígia, eu estava trabalhando e não estou com cabeça para isso.

- É claro que não está com cabeça. Você só tem cabeça para seu trabalho e para a bebida.

Gabriel senta-se no sofá e retira um dos sapatos.

- E você tem tido cabeça para outras mulheres Gabriel?

- Lígia, por favor. Não tenho nenhuma outra mulher. Eu só estava trabalhando. Fui investigar uma coisa em um bar, e aproveitei para tomar uma taça de vinho.

- Uma ou cinco?

- Que diferença faz?

- Faz muita diferença se você prefere ir para um bar beber, em lugar de vir para casa ficar com sua mulher.

- Estou aqui agora.

- Está. Mas pode ficar no sofá mesmo.

- Lígia, por favor.

- Não quero mais conversa Gabriel. Até você começar a priorizar sua esposa, e até parar de trocá-la por bebida e trabalho, você pode tratar de ficar fora do meu quarto. E boa noite.
A mulher sai em direção ao quarto. Gabriel retira o outro sapato, se deita e adormece profundamente no sofá.

***

Uma caneca de café é colocada sobre a mesa. Fumaça sai dela. Atrás da mesa, sentado em sua cadeira Gabriel lê algumas anotações. A porta de sua sala estava aberta, e por ela entra Laura. O delegado a olha, pega sua caneca, leva-a até a boca e bebe um grande gole do café.

- Noite ruim? – pergunta à perita.

- Sofá ruim. – Responde o delegado colocando a caneca de volta sobre a mesa. Ele volta sua atenção novamente para suas anotações.

- Hum. Minha cama estava vazia essa noite. Na próxima talvez você queira ocupa-la.
Gabriel levanta seu olhar para Laura.

- Já lhe disse para não falar essas coisas. Alguém pode acabar ouvindo.

- E qual seria o problema nisso?

- Você sabe exatamente qual seria o problema.

Laura levanta seus braços como que abandonando o assunto.

- Não está mais aqui quem falou.

- Ótimo. Vejo que está com uma pasta nas mãos. Novidades sobre o caso?

- Sim. De acordo com o legista, o pênis foi removido com o indivíduo ainda vivo.

- Algo mais?

- Por parte do legista não. Mas meus exames indicaram que o individuo não foi dopado. O que é estranho. Uma mulher não conseguiria dominar um homem com tanta facilidade.

- Na verdade conseguiria. Ele estava nu, o que indica que eles estavam transando, ou pelo menos iniciando uma transa. Todos os depoimentos que peguei indicam que era uma bela mulher. Isso seria o suficiente para distrair um homem, possibilitando à mulher a chance para cortar sua garganta.

- Mas como ela faria isso? Como esconderia uma lâmina sem que o homem notasse as intensões dela? De acordo com o legista não houve luta.

- Poderia ter escondido em baixo do vestido. Ou sob um travesseiro enquanto a vítima ia ao banheiro.

- É. Seria uma possibilidade.

Os investigadores Paulo e Fernando entram na sala.

- Com licença delegado. – Diz Paulo.

- Podem entrar. – Responde o delegado.

Os homens sentam-se ao lado de Laura.

- O que descobriram?

- O nome da vítima era Marcos Aurélio. Tinha 32 anos e era advogado em um pequeno escritório na rua 9, no centro. – Responde Fernando.

- Além disso, era casado há cinco anos. O nome da esposa é Mirian. Conseguimos o endereço dela. – Completa Paulo.

- Certo. Vamos fazer o seguinte então. Laura, você continua com seus exames, e qualquer coisa que descobrir me avise. Paulo, você irá acessar nossos arquivos dos últimos cinco anos e verificar se existe algum caso semelhante a esse. Entendido?

- Sim senhor. – Responde Paulo.

O delegado olha para a legista, que confirma a ordem com a cabeça.

- E quanto a mim delegado? – Pergunta Fernando.

- Você irá comigo até a casa da vítima para interrogarmos a esposa.

- Entendido.

***

Três batidas na porta.

No lado de dentro passos podem ser ouvidos, se aproximando cada vez mais da porta. Ouve-se um click. E a porta se abre.

Uma mulher loira é quem abre a porta. Ela se depara com os dois policiais.

Gabriel a observa. Sua expressão estava cansada. Seus olhos vermelhos, indicando que havia chorado. Também estava com olheiras, o que era um sinal de que não havia dormido.

- Senhora Carla Silva?

- Sim.

- Eu sou o delegado Gabriel – O delegado mostra o distintivo. – E esse é o meu colega, 
investigador Fernando. Estamos investigando a morte de seu marido. Será que podemos entrar?

- Podem sim. – A mulher responde, abrindo passagem para os policiais.

Dentro da casa todos se sentam no sofá da sala.

- Posso lhes oferecer algo para beber? – A mulher pergunta.

- Não, obrigado. Estamos bem senhora. – Responde o delegado.

- Tudo bem então. O que gostariam de saber?

- Como era o relacionamento da senhora com seu marido?

- Normal. Nós tínhamos altos e baixos como qualquer casal, mas éramos felizes. Por que pergunta?

- Imagino que os policiais que lhe informaram da morte de seu marido, não lhe disseram, quais foram as circunstâncias da morte dele. Estou certo?

- Sim, está.

- Pois bem senhora. Eu gostaria de lhe contar isso de outra maneira, mas não sei como. Então vou falar sem rodeios.

- Do que você está falando?

- Seu marido foi morto ontem à noite em um quarto no Hotel Real, no centro. Ele estava lá com outra mulher, que ao que tudo indica, foi quem o matou.

- E o senhor acredita que ele estava me traindo? É isso que está insinuando?

- É o que as circunstâncias indicam.

- E o senhor não chegou a considerar a hipótese de que eles estivessem lá para tratar de negócios?

- Não.

- E por quê? Seria tão improvável assim?

- Seria sim. Seu marido e essa mulher se conheceram em um bar próximo ao hotel. Se fosse um encontro de negócios, poderiam ter tratado deles ali mesmo, sem necessidade de ir a um quarto de hotel. Além disso, seu marido foi encontrado nu, o que indica que ele estava lá para mais do que uma consulta de advocacia.

A mulher abaixa a cabeça, como em sinal de desapontamento.

- Eu sei que deve ser difícil para a senhora, mas preciso que continue respondendo minhas perguntas.

A mulher levanta a cabeça e olha para o delegado.

- E o que o senhor deseja saber?

- Seu marido tinha algum inimigo?

- Não que eu saiba.

- Entendo. Qual era a especialidade dele?

- Direito trabalhista.

- Certo. E ele tinha algum sócio?

- Sim. Apenas um. O nome dele é Carlos Silveira.

- E os dois se davam bem?

- Sim. Estavam sempre juntos. Ele sempre aparecia para jantar com a esposa, e nós íamos a casa dele com frequência.

- Tudo bem então. Agradeço sua atenção senhora Carla. – O delegado se levanta, pega um cartão e o entrega para a mulher, que também se levanta e pega o cartão. – Prometo que farei de tudo para encontrar quem fez isso com seu marido. E caso à senhora se lembre de algo, não exite em me ligar.

- Eu quem agradeço a visita delegado. – A mulher responde, com os olhos cheios de lágrimas. – E se eu souber de qualquer coisa ligarei com certeza.

- Obrigado senhora.

Os dois policiais saem da casa. Enquanto caminham para o carro, o inspetor conversa com o delegado.

- Acha que ela pode ter algo haver com o crime?

- Não creio. Ela me pareceu bem chocada quando soube que o marido a estava traindo. Me parece ser uma mulher apaixonada. Não acredito que esteja envolvida.

- Certo. E para onde vamos agora?

- Ao escritório da vítima, falar com o sócio.

***

A secretária olhava o distintivo surpresa com a presença do delegado e de seu parceiro.

- Olá moça. Estamos aqui para falar com o senhor Carlos Silveira.

- Do que se trata delegado?

- É um assunto particular, que só posso tratar com ele.

- Entendo. Mas não será possível vocês falarem com ele.

- E por que não?

- Porque o doutor Carlos me ligou mais cedo e disse que não viria trabalhar.

- E ele disse o por quê? Ou onde estaria?

- Não senhor.

- E qual o telefone dele?

- Sinto muito delegado, mas não posso passar o número do doutor sem autorização.

- Mocinha, não estou aqui para brincadeiras. Você vai me entregar o número do seu chefe agora ou vai ter problemas.

O detetive fica assustado com a reação do delegado.

- Eu sei que você só está fazendo o seu trabalho moça, mas o delegado também. Por isso é melhor entregar o número antes que você tenha problemas. – Intervém o detetive.

A secretária olha para o detetive e depois de volta para o delegado.

- Está bem.

A moça pega um papel e anota o número, entregando-o para o delegado. Ele agradece e vai embora com seu colega.

Fora do escritório o delegado liga para o número que recebeu da secretária, mas a ligação cai na caixa de mensagens.

- Sem sorte? – Pergunta o detetive.

- É sim. Ou talvez tenhamos um belo suspeito para encontrar.

- Também pensei nisso.

O telefone do delegado toca. Ele atende.

- Tenho más notícias delegado? – Diz o detetive Paulo do outro lado da linha.

- O que aconteceu detetive? – Pergunta o delegado.

- Temos outra vítima.

POR VINÍCIUS VIEIRA DE FARIA
EM 13/07/2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário