Gabriel
destranca a porta de sua casa e entra. Na sala depara-se com sua mulher, uma
bela dama de cabelos negros, utilizando uma camisola branca e que dormia no
sofá. Ela acorda com a movimentação, olha para ele e se levanta.
-
Onde você estava?
-
Trabalhando.
-
Até a essa hora?
-
Sim.
A
mulher se aproxima do homem e sente seu cheiro.
-
E o que foi que aconteceu nesse bar de tão importante que te prendeu lá até a
essa hora?
-
No bar nada. Foi em um hotel que aconteceu.
-
Hum. Então foi no hotel que você encheu a cara?
-
Por favor, Lígia, eu estava trabalhando e não estou com cabeça para isso.
-
É claro que não está com cabeça. Você só tem cabeça para seu trabalho e para a
bebida.
Gabriel
senta-se no sofá e retira um dos sapatos.
-
E você tem tido cabeça para outras mulheres Gabriel?
-
Lígia, por favor. Não tenho nenhuma outra mulher. Eu só estava trabalhando. Fui
investigar uma coisa em um bar, e aproveitei para tomar uma taça de vinho.
-
Uma ou cinco?
-
Que diferença faz?
-
Faz muita diferença se você prefere ir para um bar beber, em lugar de vir para
casa ficar com sua mulher.
-
Estou aqui agora.
-
Está. Mas pode ficar no sofá mesmo.
-
Lígia, por favor.
-
Não quero mais conversa Gabriel. Até você começar a priorizar sua esposa, e até
parar de trocá-la por bebida e trabalho, você pode tratar de ficar fora do meu
quarto. E boa noite.
A
mulher sai em direção ao quarto. Gabriel retira o outro sapato, se deita e
adormece profundamente no sofá.
***
Uma
caneca de café é colocada sobre a mesa. Fumaça sai dela. Atrás da mesa, sentado
em sua cadeira Gabriel lê algumas anotações. A porta de sua sala estava aberta,
e por ela entra Laura. O delegado a olha, pega sua caneca, leva-a até a boca e
bebe um grande gole do café.
-
Noite ruim? – pergunta à perita.
-
Sofá ruim. – Responde o delegado colocando a caneca de volta sobre a mesa. Ele
volta sua atenção novamente para suas anotações.
-
Hum. Minha cama estava vazia essa noite. Na próxima talvez você queira
ocupa-la.
Gabriel
levanta seu olhar para Laura.
-
Já lhe disse para não falar essas coisas. Alguém pode acabar ouvindo.
-
E qual seria o problema nisso?
-
Você sabe exatamente qual seria o problema.
Laura
levanta seus braços como que abandonando o assunto.
-
Não está mais aqui quem falou.
-
Ótimo. Vejo que está com uma pasta nas mãos. Novidades sobre o caso?
-
Sim. De acordo com o legista, o pênis foi removido com o indivíduo ainda vivo.
-
Algo mais?
-
Por parte do legista não. Mas meus exames indicaram que o individuo não foi
dopado. O que é estranho. Uma mulher não conseguiria dominar um homem com tanta
facilidade.
-
Na verdade conseguiria. Ele estava nu, o que indica que eles estavam transando,
ou pelo menos iniciando uma transa. Todos os depoimentos que peguei indicam que
era uma bela mulher. Isso seria o suficiente para distrair um homem,
possibilitando à mulher a chance para cortar sua garganta.
-
Mas como ela faria isso? Como esconderia uma lâmina sem que o homem notasse as
intensões dela? De acordo com o legista não houve luta.
-
Poderia ter escondido em baixo do vestido. Ou sob um travesseiro enquanto a
vítima ia ao banheiro.
-
É. Seria uma possibilidade.
Os
investigadores Paulo e Fernando entram na sala.
-
Com licença delegado. – Diz Paulo.
-
Podem entrar. – Responde o delegado.
Os
homens sentam-se ao lado de Laura.
-
O que descobriram?
-
O nome da vítima era Marcos Aurélio. Tinha 32 anos e era advogado em um pequeno
escritório na rua 9, no centro. – Responde Fernando.
-
Além disso, era casado há cinco anos. O nome da esposa é Mirian. Conseguimos o
endereço dela. – Completa Paulo.
-
Certo. Vamos fazer o seguinte então. Laura, você continua com seus exames, e
qualquer coisa que descobrir me avise. Paulo, você irá acessar nossos arquivos
dos últimos cinco anos e verificar se existe algum caso semelhante a esse.
Entendido?
-
Sim senhor. – Responde Paulo.
O
delegado olha para a legista, que confirma a ordem com a cabeça.
-
E quanto a mim delegado? – Pergunta Fernando.
-
Você irá comigo até a casa da vítima para interrogarmos a esposa.
-
Entendido.
***
Três
batidas na porta.
No
lado de dentro passos podem ser ouvidos, se aproximando cada vez mais da porta.
Ouve-se um click. E a porta se abre.
Uma
mulher loira é quem abre a porta. Ela se depara com os dois policiais.
Gabriel
a observa. Sua expressão estava cansada. Seus olhos vermelhos, indicando que
havia chorado. Também estava com olheiras, o que era um sinal de que não havia
dormido.
-
Senhora Carla Silva?
-
Sim.
-
Eu sou o delegado Gabriel – O delegado mostra o distintivo. – E esse é o meu
colega,
investigador Fernando. Estamos investigando a morte de seu marido. Será
que podemos entrar?
-
Podem sim. – A mulher responde, abrindo passagem para os policiais.
Dentro
da casa todos se sentam no sofá da sala.
-
Posso lhes oferecer algo para beber? – A mulher pergunta.
-
Não, obrigado. Estamos bem senhora. – Responde o delegado.
-
Tudo bem então. O que gostariam de saber?
-
Como era o relacionamento da senhora com seu marido?
-
Normal. Nós tínhamos altos e baixos como qualquer casal, mas éramos felizes.
Por que pergunta?
-
Imagino que os policiais que lhe informaram da morte de seu marido, não lhe
disseram, quais foram as circunstâncias da morte dele. Estou certo?
-
Sim, está.
-
Pois bem senhora. Eu gostaria de lhe contar isso de outra maneira, mas não sei
como. Então vou falar sem rodeios.
-
Do que você está falando?
-
Seu marido foi morto ontem à noite em um quarto no Hotel Real, no centro. Ele
estava lá com outra mulher, que ao que tudo indica, foi quem o matou.
-
E o senhor acredita que ele estava me traindo? É isso que está insinuando?
-
É o que as circunstâncias indicam.
-
E o senhor não chegou a considerar a hipótese de que eles estivessem lá para
tratar de negócios?
-
Não.
-
E por quê? Seria tão improvável assim?
-
Seria sim. Seu marido e essa mulher se conheceram em um bar próximo ao hotel.
Se fosse um encontro de negócios, poderiam ter tratado deles ali mesmo, sem
necessidade de ir a um quarto de hotel. Além disso, seu marido foi encontrado
nu, o que indica que ele estava lá para mais do que uma consulta de advocacia.
A
mulher abaixa a cabeça, como em sinal de desapontamento.
-
Eu sei que deve ser difícil para a senhora, mas preciso que continue respondendo
minhas perguntas.
A
mulher levanta a cabeça e olha para o delegado.
-
E o que o senhor deseja saber?
-
Seu marido tinha algum inimigo?
-
Não que eu saiba.
-
Entendo. Qual era a especialidade dele?
-
Direito trabalhista.
-
Certo. E ele tinha algum sócio?
-
Sim. Apenas um. O nome dele é Carlos Silveira.
-
E os dois se davam bem?
-
Sim. Estavam sempre juntos. Ele sempre aparecia para jantar com a esposa, e nós
íamos a casa dele com frequência.
-
Tudo bem então. Agradeço sua atenção senhora Carla. – O delegado se levanta,
pega um cartão e o entrega para a mulher, que também se levanta e pega o
cartão. – Prometo que farei de tudo para encontrar quem fez isso com seu
marido. E caso à senhora se lembre de algo, não exite em me ligar.
-
Eu quem agradeço a visita delegado. – A mulher responde, com os olhos cheios de
lágrimas. – E se eu souber de qualquer coisa ligarei com certeza.
-
Obrigado senhora.
Os
dois policiais saem da casa. Enquanto caminham para o carro, o inspetor
conversa com o delegado.
-
Acha que ela pode ter algo haver com o crime?
-
Não creio. Ela me pareceu bem chocada quando soube que o marido a estava
traindo. Me parece ser uma mulher apaixonada. Não acredito que esteja
envolvida.
-
Certo. E para onde vamos agora?
-
Ao escritório da vítima, falar com o sócio.
***
A
secretária olhava o distintivo surpresa com a presença do delegado e de seu
parceiro.
-
Olá moça. Estamos aqui para falar com o senhor Carlos Silveira.
-
Do que se trata delegado?
-
É um assunto particular, que só posso tratar com ele.
-
Entendo. Mas não será possível vocês falarem com ele.
-
E por que não?
-
Porque o doutor Carlos me ligou mais cedo e disse que não viria trabalhar.
-
E ele disse o por quê? Ou onde estaria?
-
Não senhor.
-
E qual o telefone dele?
-
Sinto muito delegado, mas não posso passar o número do doutor sem autorização.
-
Mocinha, não estou aqui para brincadeiras. Você vai me entregar o número do seu
chefe agora ou vai ter problemas.
O
detetive fica assustado com a reação do delegado.
-
Eu sei que você só está fazendo o seu trabalho moça, mas o delegado também. Por
isso é melhor entregar o número antes que você tenha problemas. – Intervém o
detetive.
A
secretária olha para o detetive e depois de volta para o delegado.
-
Está bem.
A
moça pega um papel e anota o número, entregando-o para o delegado. Ele agradece
e vai embora com seu colega.
Fora
do escritório o delegado liga para o número que recebeu da secretária, mas a
ligação cai na caixa de mensagens.
-
Sem sorte? – Pergunta o detetive.
-
É sim. Ou talvez tenhamos um belo suspeito para encontrar.
-
Também pensei nisso.
O
telefone do delegado toca. Ele atende.
-
Tenho más notícias delegado? – Diz o detetive Paulo do outro lado da linha.
-
O que aconteceu detetive? – Pergunta o delegado.
- Temos outra vítima.
POR VINÍCIUS VIEIRA DE FARIA
EM 13/07/2015.
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