Há alguns anos foi lançado o filme VINGADORES: GUERRA INFINITA, que apresentou o vilão Thanos, um dos mais cruéis e violentos seres do Universo Marvel e que possui um plano com objetivo nefasto: utilizar a manopla do infinito para eliminar metade da vida do universo em um estalar de dedos.
Esse também é o objetivo do personagem nos quadrinhos da Marvel, porém por motivos distintos. Enquanto nas HQ's o intuito de Thanos é agradar a Deusa Morte, no universo cinematográfico suas intenções são muito mais "nobres": Salvar o universo de si mesmo. A ameaça? Os recursos no universo são finitos e a quantidade de seres vivos aumenta infinitamente. De acordo com o personagem, isso levará a um cenário catastrófico, que resultará no fim de todos os seres vivos. A solução mais razoável encontrada por ele? Cometer genocídio eliminando cinquenta por cento de todos os seres vivos.
Mas, será que isso faz sentido?
A ideia está errada em sua essência. Os organismos não podem crescer para além do que os recursos disponíveis conseguem suportar. Alias, as populações sequer podem crescer até o máximo que os recursos existentes permitem, pois, antes mesmo disso, a competição e as pressões do consumo controlarão o quantitativo de indivíduos, impedindo o colapso.
Esse é o cenário em ambientes terrestres que costumam ter climas agressivos, como a savana africana por exemplo. Naquele bioma claramente existe uma limitação de recursos, principalmente no período da estação seca, mas mesmo assim os leões e outros animais nativos desses habitats não entram em extinção. Claro que todos os anos esses animais são acometidos por grandes dificuldades, tais como a fome e a seca, o que resulta na morte de muitos deles, consequentemente reduzindo as populações, mas nunca levando a extinção. Isso porque a escassez de recursos limita o tamanho das comunidades animais, impossibilitando o crescimento desenfreado e, para além disso, garantindo a sua redução a medida que os recursos ficam mais e mais limitados.
Veja a população humana por exemplo. Por que não atingimos os sete bilhões de indivíduos há dez mil anos? Ou há dois mil? Ou há mil? Por que isso ocorreu? Bem, o motivo é muito simples. Porque tínhamos uma limitação na quantidade de recursos disponíveis, ou seja, há dez mil anos não havia recursos suficientes para sustentar uma população de sete bilhões de humanos.
Note que a espécie humana aumentou gradativamente o seu número por cerca de duzentos mil anos, até chegar a um bilhão de indivíduos durante o século XIX. Coincidentemente, foi no final do século anterior que teve início a revolução industrial, intensificada ao longo do século XIX, possibilitando um bum na disponibilidade de recursos, justamente devido ao grande aumento na produção. E apenas no século XX chegamos aos dois bilhões de indivíduos, coincidência ou não, o século da globalização, que novamente possibilitou um bum na produção, elevando ainda mais a quantidade de recursos.
E quanto mais a capacidade produtiva e a quantidade de recursos disponíveis aumentava, mais a população humana crescia, até chegar nas impressionantes cifras atuais, de oito bilhões de seres humanos no planeta Terra, número esse que segue aumentando.
O que podemos concluir disso?
Primeiramente que Thanos estava redondamente enganado. O crescimento do número de seres vivos não levaria a um colapso do universo, pois a quantidade de recursos disponíveis por si mesma controlaria a população. Os seres vivos, assim como a humanidade, só podem crescer até o ponto em que os recursos conseguem sustentá-los.
Em segundo lugar, podemos concluir que todas as vezes que aparece alguém com ares de bastião da moralidade, da verdade e do que é certo, pregando soluções radicais para um problema existente, o resultado são mortes incalculáveis.
Basta olharmos para a nossa história e perceberemos exatamente isso.
Escrito em 29 de maio de 2023
Por V.